Mais números, mais profissionais, médicos veterinários, no limite do que podem suportar
A notícia de suicídio de um médico veterinário nesta última semana chama a atenção. Mais uma vez, mais um colega tira a própria vida. Onde estamos falhando?
Muitos de nós entramos nesta profissão porque nos importamos com as pessoas e seus animais de estimação, é aquele sonho de criança envolto de amor, carinho e zelo. Com os olhos brilhando, nós mergulhamos na nossa escolha e prometemos fazer a diferença lá fora. E nós tentamos… mas há um custo.
Muitas vezes os sinais de estresse e esgotamento passam despercebidos entre colegas de trabalho, entre amigos e entre a própria família dos profissionais, escondidos por trás de um sorriso, um projeto, um compromisso. Mas, quando acontece a morte de alguém, a atenção sempre é voltada ao grave problema que afeta a profissão.
Existem várias teorias diferentes sobre depressão, ansiedade, burnout e a sua presença na equipe veterinária. Alguns dizem que o campo atrai perfeccionistas, empreendedores e indivíduos empáticos. Outros dizem que o campo e carga horária extensos, a sobrecarga e o cuidado em demasia nos faz mal. Ainda, incluem o não reconhecimento de esforço pelo tutor, as cobranças individuais e da equipe. Sem falar na parte financeira, com relação às metas e salários. Não é sabida uma resposta correta para isto, mas as pessoas continuam morrendo… e isto continua impactando nossa comunidade.
Precisamos começar a olhar para os nossos colegas de trabalho e perceber que eles podem estar lutando. Oferecer recursos e começar a falar sobre coisas difíceis. Quando perdemos um paciente durante um procedimento, devemos discutir e aprender a processar emocionalmente. Necessitamos começar a abordar o efeito de entrar em uma dívida estudantil absurda para sair pouco acima do salário mínimo. Carecemos de apoio, como classe, como comunidade, sem falar coisas desnecessárias ou que comprometam a índole de profissionais perante os tutores, perante nós mesmos. Precisamos ter estas conversas. E acima de tudo, ser gentis uns com os outros.
Se você perceber alguém lutando, saiba que não há problemas em perguntar como está indo. Se você perceber mudanças comportamentais em um colega de profissão, não há problema em perguntar se está bem, se está considerando alguma forma de se prejudicar. Não há problema estar ao lado da pessoa. Nós, infelizmente, nem sempre vemos os sinais, sintomas ou sabemos o que acontece na vida pessoal dos outros, mas devemos começar a falar sobre isso, devemos começar a nos preocupar com isto.
Não falar não está funcionando!
Se você está com dificuldades, saiba que existem pessoas que se importam com você e querem você aqui. Saiba que existe um jeito de, ao fim dizer “esta foi a experiência negativa mais positiva que eu tive”. Existe um jeito de transformar. Existe um jeito de explorar, de aprender e de compreender.
Não podemos simplesmente colocar a culpa sobre aqueles que estão sofrendo. Precisamos começar a criar uma cultura onde possamos abordar estes tópicos e ajudar uns aos outros.
Aqueles que perdemos deixaram mais impacto neste mundo do que poderiam imaginar. Mas, conversando com nossas equipes, com nossos colegas e profissionais que dividem a rotina conosco, podemos amenizar isto, ou pelo menos, reduzir este percentual altíssimo.
Nós estamos juntos nisto.
Saiba que você não está sozinho.
Dra. Larissa Seibt
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