Perdi um paciente hoje, um bichinho dócil que foi muito amado por sua família. Tratava-se de um coelho idoso que morreu durante a cirurgia. Eu sabia que ele era um fraco candidato à anestesia. Os coelhos não toleram bem os anestésicos, especialmente quando são geriátricos.
Apesar disso, mantive o procedimento. Senti que as únicas opções eram executar a cirurgia ou levar o coelho à eutanásia. Como sua família queria lhe dar uma chance, então concordei em seguir com a cirurgia.
No meio da operação, meu técnico disse: “Acho que perdemos os batimentos cardíacos”. Realizamos RCP, mas era muito tarde, o paciente se foi. Assim que percebi isso, começaram os pensamentos negativos: “Eu o matei. Será que não fiz como deveria? Eu deveria ter realizado a cirurgia mais rapidamente”.
Eu não precisava ter esperado tanto tempo para fazer a cirurgia. Se eu tivesse corrido com a operação durante a hora do almoço, quando eu vi o coelho pela primeira vez, ele poderia ter sido mais forte.
Aliás, por que eu pensei que poderia fazer essa cirurgia? Eu deveria ter empurrado ele para alguém mais experiente. Eu me inclinei sobre meu paciente falecido e sussurrei: “Me desculpe!” Enquanto uma lágrima rolava de minha bochecha para dentro de sua pele. Eu falhei com o coelho e o seu dono.
Todos esses pensamentos negativos passavam pela minha cabeça enquanto eu abria caminho para ir até minha mesa e fazer o telefonema temido. Antes da cirurgia, os clientes e eu discutimos os riscos do procedimento.
Eles tomaram uma decisão informada quando assinaram o formulário de consentimento cirúrgico, mas ainda era um telefonema que eu não queria fazer. Eu poderia imaginar como eles reagiriam ao telefonema, eles sabiam que minha ligação não era uma boa notícia. Eu me preparei para chorar, foi um misto raiva e arrependimento.
Minhas notícias foram encaradas com tristeza, mas para minha surpresa, também encontrei outra coisa: palavras gentis e encorajamento. Meus clientes disseram consolados: “Obrigado por tentar. Lamento por você que você o perdeu. Eu sei que você tem um coração gentil e isso deve estar sendo muito difícil para você. ”
Nós conversamos mais um pouco e concordamos que ficamos felizes por nós, pelo menos, termos dado uma chance ao coelho. Ele morreu sob anestesia e não sofreu. Eu desliguei o telefone com um nó na garganta. Fiquei triste por ter perdido um paciente, mas também tive um sentimento de contentamento.
Eu tinha tratado meu paciente com a melhor da minha capacidade. Eu tinha feito o que era melhor para ele e para os seus donos. Eles queriam que seu amado coelho voltasse para casa com eles no final do dia.
Mas agora só restava admitir que eles tinham feito tudo o que podiam para o seu coelho, saber que ele estava nas mãos de alguém que se importava e que poderia ajudá-lo. Não foi o resultado que nenhum de nós queria, mas foi um resultado que todos nós aceitamos sem raiva ou culpa.
Eu percebi que minha fala negativa estava errada. Eu não tinha errado com meu paciente quando ele morreu. Meus clientes estavam satisfeitos por suas necessidades serem atendidas – eu tinha dado a seu coelho uma última chance. Eu o tratei com compaixão e lhe ofereci o melhor que pude. Eles viram isso e agradeceram o cuidado que eu havia tido. Então, apesar do paciente morrer, eu fiz o que era certo.
Eu acho que muitos veterinários são como eu. Quando um paciente morre, o primeiro pensamento é “o que eu fiz de errado?” E nos culpamos. Nosso objetivo é curar o paciente, estar lá como heróis e salvá-los. Mas nem todas as histórias podem ter um final feliz, especialmente quando as chances são contra o nosso paciente desde o início.
Em vez de nos abater diante do resultado, precisamos olhar para a forma como lidamos com o caso. Nós atendemos as necessidades do paciente? Nesse caso, o coelho precisava de cirurgia. Ele não podia continuar em sua condição atual.
Nós atendemos as necessidades do cliente? Meus clientes precisavam saber que eles faziam tudo o que podiam dentro de seus meios e conhecer seu veterinário preocupado com eles e seu animal de estimação.
Como veterinários, precisamos parar de nos culpar quando não somos o herói. Temos que aprender a aceitar os resultados, bons ou ruins, e nos contentarmos em saber que oferecemos o melhor atendimento possível e tratamos o paciente com compaixão. Se podemos fazer isso, estamos fazendo algo certo.
Texto traduzido e adaptado ( Fonte ).
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